O assunto aqui é sempre sarau, claro (e a programação do feriadão tá repleta de eventos legais). Mas um filme e uma peça me levaram a discorrer rapidamente sobre outro tema: a banalização e aceitação da violência. Me impressiona, apavora e amedronta a naturalidade (e a impunidade) com que as emissoras de tevê apresentam e reprisam a todo instante os assassinatos a sangue frio gravados por câmeras de segurança. Ou os vídeos das violências, covardias e barbaridades diversas cometidas contra mulheres, crianças, idosos, doentes, animais ou indefesos em geral. Tudo acompanhado com a expressão ‘veja como foi’, preparando o espírito do telespectador para a suposta ‘descarga de adrenalina’ para a ‘forte emoção’ para a ‘ação espetacular e imperdível’ que será mostrada. ‘Me dê imagens’, ‘bota na tela’, ‘olhem isso’, ‘flagrante da cidade’. Ainda não vi, mas soube que a policial que matou o ladrão na porta de uma escola (lembra?) é candidata a cargo público e colocou a cena do assassinato em seu programa eleitoral na tevê. E acrescentou um áudio com os supostos diálogos que precederam os tiros (é isso produção? ela pede votos por ser rápida no gatilho e possuir sangue frio para matar?). Me parece que os assassinatos filmados e reapresentados em horário nobre têm público. A audiência se interessa por isso como por filmes de Stalone e similares (pobres de nós!).
Há um episódio assustadoramente incrível da série ‘Black Mirror‘ (na Netflix) em que grupos de pessoas empunham seus celulares e se divertem ao filmar o desespero de uma mulher que foge de um atirador, indiferentes à violência da cena. Esses assuntos se misturaram na minha cabeça após assistir à excelente peça em cartaz no Sesi, ‘Os 3 mundos‘ (ver matéria, abaixo). Nela, numa sociedade futurista controlada por seitas, a temida profecia se realiza e vira fato histórico, se impondo como verdade: os violentos, assassinos e sanguinários (eles?) se agarram ao poder e mantém ‘a ordem’ a qualquer preço, instaurando o caos. É mais um aviso aos humanistas, solidários e amorosos (nós?). Ou mudamos a direção dos acontecimentos políticos ou caminhamos para um ciclo inimaginável da mais estúpida barbárie adornada por tecnológicos requintes de crueldade. O estilo deixa-que-eu-chuto dos Trumps e Bolsonaros está fazendo escola (na Paulista, domingo, constatei entristecido o discurso desinformado, equivocado e preconceituoso de um grupo de jovens orgulhosamente se dizendo ‘de direita’ e destilando ódio contra comunistas, gays e clamando por ‘escola sem partido’). Ah, mas você não é gay? Nem comunista? Lembre-se daquele poema atribuído ao Brecht: ‘no primeiro dia, eles levaram os comunistas, mas eu não era comunista e não me importei‘. A continuar desse jeito, sua hora também vai chegar. Você será apenas mais um entre os ‘indefesos’ filmados por câmeras de segurança (aqueles do começo do texto). Parece óbvio dizer, mas a realidade nos impele a repetir obviedades. Não há outra saída: sem inclusão social, sem a convivência respeitosa com as diferenças, sem a defesa da diversidade e dos direitos humanos, estamos todos ferrados.
Aproveito o tema para mostrar três tiras do genial desenhista André Dahmer, um artista de quem sou muito fã (se for o caso, clique nas tiras para ler melhor). Leia suas incríveis histórias e conheça mais de seu belo trabalho (lá no Globo e aqui).

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5 ANOS DO PROJETO DANDÔ
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QUARTA-FEIRA a DOMINGO – 12 a 16 de setembro … Dandô – Circuito de Música Dércio Marques … Circuito comemora cinco anos com palestras, rodas de conversa, sarau, exposição ‘Olhar da Utopia’, oficinas de música e dança latino-americanas, contação de histórias, shows e mostras regionais com artistas dos circuitos de SP, PR, RS, MG e GO/DF. Os artistas anfitriões são João Bá, Doroty Marques, Zé Geraldo, Ceumar e Alzira E. A Ocupação acontece paralelamente ao II Encontro Latino-Americano do Dandô que recebe parceiros do Chile, Venezuela e Argentina e as “1000 Guitarras para Victor Jara”. Saiba mais na página do evento. Clique no cartaz e leia a programação completa:
12 a 16/9 – Ocupação Dandô – 5 Anos – Unibes Cultural, à rua Oscar Freire, 2500 (ao lado do metrô Sumaré)
16/9 das 10h às 12h – “Mil Guitarras para Victor Jara” – Memorial da América Latina – Salão dos Atos
Imagine uma grande cantoria, que reúna músicos de lugares diferentes do Brasil, e que de forma coletiva e colaborativa promova encontros, trocas e reflexões acerca da música. Esta é a proposta do “Dandô” que comemora 5 anos de atividades com cinco dias de shows e ‘Ocupação’ na Unibes Cultural (ao lado da estação Sumaré do metrô). Entre bate-papos, barracas de artesanato e grupos de dança, vão rolar shows com Katya Teixeira, Cecilia Concha Laborde, José Delgado, Victor Mendes, Paulo Nunes, EntreLatinos, Ana Maria Stinghen, Anabel Andrés, Cardo Peixoto, Analía Garcetti, Isabella Rovo, Victor Batista, André Salomão, Cabocla e Marcelo Taynara, entre outros.
O circuito, idealizado pela cantora Kátya Teixeira, é realizado por uma rede de diversos coletivos, mobilizadores locais, artistas, instituições e produtores culturais. Busca uma interação musical entre artistas e público, proporcionando às pessoas o acesso à música de qualidade produzida fora da indústria cultural de massa, além de promover espaços de reflexão e formação durante cada apresentação.
Dandô teve início em 2013 e hoje está presente em mais de 40 cidades brasileiras, se expandindo para América Latina e Europa. ‘Dandô’ é uma corruptela do verbo andar, no linguajar dos pretos velhos. O nome do projeto foi tirado da música ‘Canto dos Ipês Amarelos’, de João Bá, Klécius Albuquerque e Guru Martins, que homenageia o cantor e compositor Dércio Marques. Em 2015 foi lançado o primeiro cd coletânea “Dandô – Circuito de Música Dércio Marques: um canto em cada canto do Brasil” em parceria com a Distribuidora Tratore. Agora é lançada a segunda coletânea, reunindo 27 artistas do Brasil, Chile, Argentina e Venezuela.

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MOSTRA PARLAPATÕES
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ATÉ 23 DE SETEMBRO … Parlapatões Sortidos e Variados … Comemorando 27 anos de trajetória o grupo coloca em cartaz vários espetáculos de seu repertório. Ingressos a R$40 e R$20. Na praça Roosevelt, 158. No dia 11, festa de aniversário com o Show Bolero Freak, às 20h. Clique no cartaz pra ler melhor a programação.

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FELIZS 2018 – IV FEIRA 
LITERÁRIA DA ZONA SUL
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SEGUNDA-FEIRA – 10 de setembro – das 10h às 22h … Abertura da Felizs 2018 – IV Feira Literária da Zona Sul … Quarta edição da feira literária tem como eixo a pergunta “De onde você vem?”, com o propósito de refletir sobre as origens e ancestralidades na construção de trajetórias de vida e suas relações com a literatura. A homenageada deste ano será Dona Eda Luiz. Coordenadora Geral do Cieja Campo Limpo por 20 anos, Dona Eda construiu no Capão Redondo um projeto pedagógico baseado na inclusão e no acolhimento, trabalhando em conjunto com os movimentos culturais da região. A feira acontecerá em vários espaços culturais e de educação na zona sul e vai até 22 de setembro. Confira toda a programação aqui.

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MINHAS ANDANÇAS
PELOS SARAUS
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BANDA DA PORTARIA >>> No sábado fui ao Baderna ver o show da Banda da Portaria, formada por João Mantovani (voz e violão), Binho Siqueira (percussão), Henrique Stella (baixo), Danilo Trevisan (violino), Arthur Lobo (guitarra) e pelo poeta Vitor Miranda, que declama seus textos enquanto os músicos entoam levadas legais de pop e rock (eles abriram espaço e até eu fui lá e li um poema também. Valeu, pessoal!). Vitor é a alma da banda. Um jovem com visual de Jesus Cristo e versos antenados nas atuais questões artísticas, políticas e comportamentais. Se Jesus salva, não sei, mas como a poesia tem me salvado desde sempre, fiquei superfeliz ao ver um monte de jovens reunidos mastigando o doce chiclete da música pop com um inquietante recheio poético. A banda tem alguns vídeos no Youtube e Vitor já lançou os livros ‘Poemas de Amor Deixados na Portaria‘ (que deu origem ao projeto musical) e ‘A Gente Não Quer Voltar Pra Casa‘.
Culpa(Vitor Miranda)
estou feliz
e a culpa 
é sua
que me
concedeu
a alegria
de sofrer
de amor
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OS 3 MUNDOS >>> No domingo fui ao Sesi, na Paulista, e me deliciei assistindo à peça ‘Os 3 Mundos‘, primeira obra teatral dos quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá. O maravilhoso espetáculo multimídia mescla teatro, cinema, hq e kung-fu. Os atores atuam entre duas finíssimas e imperceptíveis telas onde imagens animadas são projetadas. Para o público, o efeito é o de ler e, ao mesmo tempo, estar dentro e participando de uma hq viva. Visualmente, é um dos mais belos espetáculos que já vi. Li críticas (das quais discordo) sobre seu excesso de beleza e escassez de conteúdo. Pra mim, a peça mostra claramente que não devemos confiar em super herois, salvadores da Pátria, seitas e religiões. Que o conflito dos homens se dá e sempre se dará pelo poder. Que lutamos contra nós mesmos pela contenção de nosso egoísmo. E que tudo isso é ‘fazer política’, mas que, paradoxalmente, fugir dela é abdicar do poder de decidir os rumos da própria vida. Ou seja: ou nos tornamos solidários e capazes de um projeto comum, ou vamos nos digladiar, oprimir e exterminar uns aos outros. Se isso não for o melhor e mais crítico comentário ao nosso tempo de valores retrógrados, preconceituosos e individualistas, não sei qual conteúdo poderia ser mais adequado. ‘Os 3 Mundos’foi idealizado pela atriz Paula Picarelli, praticante de artes marciais, autora do livro ‘Seita‘ (onde narra suas experiências com ayahuasca) e leitora de Murakami(‘1Q84’ foi uma de suas inspirações). Paula queria juntar no mesmo palco dramaturgia, quadrinhos, projeções e kung fu. Foi expondo suas ideias e arregimentando os muitos talentos responsáveis pelo sucesso final da grande empreitada. A direção é de Nelson Baskerville, a produção de Daniel Gaggini. No elenco, além de Paula (que faz Lachesis, a líder do Grupo da Serpente), estão Thiago Amaral (com uma interpretação impecável de Acônito, líder do Mundo das Máscaras), Tamirys Ohanna, João Paulo Bienemann, Alice Cervera, Artur Volpi, Rafael Érnica e Luciene Bafa (as fotos são de Ligia Jardim).  ‘Os 3 Mundos’ fica em cartaz até 16 de dezembro e você não pode deixar de ver. Na av. Paulista, 1313, com entrada franca (reserve ingressos ou chegue uma hora antes). Quinta, sexta e sábado às 19h. No domingo, às 20h.
No folheto da peça há um texto superinteressante de Neil Postman (professor e teórico da educação) citado pelo diretor Nelson Baskerville. Nele, Neil, cuja obra alerta para a rendição da cultura à tecnologia, pinça frases comparativas entre dois escritores geniais: George Orwell (no livro ‘1984’) e de Aldous Huxley (no‘Admirável Mundo Novo’). Uma frase de Huxley me tocou especialmente: ‘os defensores das liberdades civis falharam ao não levar em conta o apetite quase infinito que o homem tem por distrações’. Nossos muitos brinquedinhos eletrônicos que o digam.
Orwell temia aqueles que proíbem livros.
Huxley temia que não houvesse razão para proibir livros, por que ninguém mais se interessaria em ler algum.

Orwell temia a censura das informações.
Huxley temia que nos oferecessem tanta informação que seríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo.

Orwell temia que nós nos tornássemos uma cultura oprimida.
Huxley temia que nos tornássemos uma cultura irrelevante, baseada apenas no entretenimento.

Em ‘1984‘, as pessoas são controladas pela dor.
Em ‘Admirável Mundo Novo‘, são controladas pelo prazer.

Orwell temia que seríamos arruinados por aquilo que odiamos.
Huxley temia que seríamos arruinados por aquilo que amamos.
Neil Postman >>> Professor da Universidade de NY, escreveu sobre a conexão entre mídia e educação, as conseqüências da comunicação eletrônica, a erotização precoce e a crescente participação infanto-juvenil nos índices de criminalidade. Para ele, ‘habitamos um tempo de crianças adultas e de adultos infantis’. Em ‘O Fim da Educação’ reafirma a importância da escola pública, gratuita e humanista.

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ANOTA AÍ
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Neste mês de setembro participo de dois eventos superlegais. No dia 15, sábado, eu e a banda Chero da Poesia dividimos a noite do Show da Maria. No dia 16, domingo, vou cantar uma canção e ler um poema no sarau Transformadoria, que terá show do Duas Casas (dupla formada por Bezão & Nô Stopa), além da presença de Zhaira Mirage, Lê Guedes e Letícia Pallo. Na semana que vem eu dou detalhes.

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DOIS VIDEOCLIPES
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ANTONIO GALBA – TIRO NO PÉ >>> O músico e compositor Antonio Galba, ligado aos saraus do Clube Caiubi e da Toca do Autor, acaba de lançar um caprichado videoclipe de sua canção de protesto ‘Tiro no Pé‘, com direção de Alexandre Tarica e edição de Peron Ribeiro. No elenco, os atores Paulo Ricardo da Silva, Eudes Nascimento, Galba, Regina Cell, Peron Ribeiro, Heloísa Ribeiro, Luiza Ribeiro, Raiza Ribeiro, Wellington de Faria e Rafael Mateus.
Galba em Goiânia >>> Sexta-feira e sábado, dias 7 e 8 de setembro, às 20h, acontece o show ‘Galba, um multiinstrumentista’, na Oficina Cultural Geppetto, à rua Mil e Treze, qd.39, Lt.11, Setor Pedro Ludovico, em Goiânia. Entrada R$40.
LUMA AIUB – DESCOMPASSO >>> A composição e a edição de vídeo são da própria Luma, com produção musical de Guilherme Barbosa e imagens do acervo pessoal da cantora e de vídeos da bailarina Sabrina Rocco, encontrados na net. Além de cantar e compor, Luma Aiub publicou o livro ‘(P)artes’ e escreve em blogs e em suas páginas nas redes sociais.

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